sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Abandonando o legado do passado, D&D se torna digital

"That is Hasbro´s worst nightmare: the idea that you can buy a book, the first edition of Dungeons & Dragons and still be playing it, spending no more money”.

- Professor Dungeon Master 

Saudações, guerreiros da Luz.

A discussão sobre o que D&D vem se tornado foi um dos grandes responsáveis pela destruição dos Salões de Valhalla, uma vez que lida com fatos que alguns não querem que venham à tona, e outros, preferem simplesmente ignorar. Ainda assim, quando percebemos algo errado dentro de um escopo (mesmo que seja um de pouca relevância a nível macro), é nosso dever ao menos expor o problema. Além da panfletagem ideológica promovida pela Wizards of the Coast, que compreende hostilização de jogadores veteranos por conta de sua cor de pele, roubo da propriedade intelectual dos criadores do jogo, assédio a jogadores e “readequação” do legado do hobby, a empresa tem gradativamente transformando D&D naquilo que tem sido chamado de “VTTRPG” (RPG de mesa virtual).

A gradativa abolição dos livros físicos serve a dois propósitos: O primeiro deles é permitir que a empresa altere regras, fatos e eventos a bel prazer, de modo a poder lançar novos livros a custo praticamente nulo na esperança que algum tolo continue consumindo novos produtos que não agreguem valor algum. Isso serve também para fins ideológicos, para adequar rapidamente conteúdos ao “choramingo Woke da semana”, como alguns bem apontaram. O segundo é permitir um alcance maior do material, em uma estratégia de capitalização que busca retirar da cadeia logística diversos intermediários (o maior exemplo disso são donos de lojas físicas de RPG) concentrando a renda nas mãos da empresa de modo que nunca fora feito antes.

É uma estratégia de mercado que empresas como a Disney, Amazon, Netflix e diversas outras já aplicaram: Lançamento de produtos panfletários de baixíssima qualidade, com ampla distribuição e voltados para um público influenciável que poderá ser mais facilmente levado a consumir compulsivamente apenas pelo desejo de estar “atualizado”. Essa estratégia nunca funcionou, tanto que a Disney, por exemplo, passa hoje pela maior crise financeira da sua história, mas é esse o caminho que a WotC pretende seguir com D&D.

No vídeo abaixo, professor Dungeon Master faz uma análise muito interessante sobre esse fenômeno. E a parte mais interessante, em minha opinião, foi a passagem com a qual comecei o pergaminho: O maior pesadelo da Hasbro é a ideia de que você pode comprar um livro, que não precisa ser a edição mais “atual” do jogo, e jogar indefinidamente com um grupo de amigos, sem jamais precisar gastar dinheiro com isso novamente. Por isso, o investimento no modelo “VTTRPG”; tecnicamente, por jogar online e virtualmente, os jogadores estariam sempre comprando novos itens, cosméticos, suplementos, etc para se manterem “atualizados”. Funciona com MMORPGs chineses e japoneses. Por que não funcionaria com D&D?

Porque por mais que a WotC aliene seus jogadores e incentive o pior dentro de cada um, D&D não é um VTTRPG. É um RPG. E como tal, precisa de apenas um livro, alguns dados e um grupo de amigos para ser desfrutado “eternamente”.  A estratégia é tão ruim que a WotC nem considerou o impacto que Baldur’s Gate 3 terá sobre One D&D. Se tudo é digital, as histórias são padronizadas conforme uma ideologia não podendo sair dela, e a presença humana algo supérfluo, não há razão nenhuma para que alguém jogue One D&D e não Baldr’s Gate 3, que é mais barato, melhor desenvolvido e segue exatamente a mesma linha. Mas essas será uma lição que a WotC aprenderá em 2024. A nós, verdadeiros jogadores de D&D, cabe a sábia reflexão feita por professor Dungeon Master: Para jogar RPG, precisamos de um livro e um grupo de amigos. Nada mais.

 

4 comentários:

  1. Já joguei RPG online, mas tá longe de ser a mesma coisa, a experiência é muito diferente. Eu particularmente não gostei, mas minha mesa atual insiste em fazer algumas sessões virtuais pra aumentarmos a quantidade de encontros, principalmente pelo fato de 1 jogador morar em outra cidade e ter que fazer um grande deslocamento para jogar.

    Outra coisa que o professor abordou, que por coincidência meu grupo de RPG estávamos discutindo essa semana e eu defendia a mesma posição e argumento dele é que RPGs de video-game não são verdadeiramente RPGs. Eu defendia que RPG possui liberdade pra o personagem explorar e suas ações moldam o cenário de uma maneira não determinada. Nos RPGs virtuais, todas as ações do personagem seguem um plot principal e algumas side-quests. Para mim, jogos de mundo aberto como GTA e Zelda são mais parecidos com o que deve ser um RPG do que o considerado gêneros de RPG virtual estilos ocidentais ou orientais, como baldur gates e final fantasy.

    Quanto as ações da hasbro em si, acredito que a estrategia de negócio mais lógica será eventualmente abandonar o D&D como RPG tradicional e se concentrar em explorar a propriedade intelectual em diversos produtos, o nicho de RPG virtual, não será sua maior preocupação, mas será explorada como um elo que apela ao passado, da mesma forma como hoje as hqs são para os filmes de heróis e o merchandising. O pior, é que acredito que a iniciativa do RPG Virtual terá sucesso a ponto de trazer algum retorno. Não pelo valor do produto em si, mas como reflexo de uma geração quebrada mais acostumada com relações plásticas. Dito isso: eu me aprofundaria um pouco mais na citação ao professor dando mais ênfase no valor moral que no econômico. O medo da hasbro não é o RPG tradicional ser capaz de gerar pouca receita, mas sim de ter a potencialidade de reverter uma tendência. Entretanto, acho difícil disso acontecer. Vejo como mais provável o RPG tradicional, voltar ser um nicho e até mesmo, um lifestyle.

    Quanto a forma que essa estratégia me afeta: os cenários de fantasia da WotC só possuíam apelo para mim como inspiração e entretenimento, já que eu sempre criei meus próprios cenários. Da mesma forma as regras, pois também sempre joguei cheio de house rules. Por causa disso, produtos digitais para pessoas com o meu perfil possuem pouca relevância, independente da qualidade (supondo que a WotC estivesse fazendo bons produtos).

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    1. De fato, nobre sonhador, a diferença entre jogar com amigos sentados ao redor de uma mesa e online é muito grande. Para jogadores da nossa idade e situação de vida, as partidas online acabam sendo uma boa maneira de conciliar o hobby com os afazeres da vida. Por isso, não tenho nada particularmente contra se jogar online. Meu problema está na presença de "moderadores" verificando jogos para ver se ninguém falou algo politicamente incorreto (ocorre em partidas abertas) ou na ação de se transformar o jogo em um MMORPG, com "patches" de atualização, microtransações e limitações na forma de se contar uma história. Meu problema, em resumo, está no que a WotC vem fazendo.

      O que a WotC deseja é elevar a margem de vendas (ou assinaturas, como está começando a ficar evidente) a ponto de equiparar D&D a produtos como Diablo em termos de vendas. Eles apostam precisamente nessa geração quebrada de relações plásticas, que você muito bem descreveu. Mas não funcionará. Esse público, se desejar jogar "RPG", irá continuar investindo em jogos como Diablo IV, Baldur's Gate 3 e outros similares.

      Em outro vídeo do Professor Dungeon Master, ele analisou o relatório de vendas dos livros de D&D. O livro do jogador de D&D 5e vendeu em torno de 4 milhões de cópias no mercado nos quase 10 anos que está no mercado. Diablo IV vendeu 10 milhões de cópias na primeira semana. Por alguma razão, a WotC crê que conseguirá seguir essa métrica se deixar o D&D totalmente online. Mas isso fracassará monumentalmente, como ficará claro até o final do ano que vem.

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  2. Gronark, o Senhor do Sofrimento26 de agosto de 2023 às 10:01

    Os meus Bruxos da Costa mudaram o D&D e agora os jogadores antigos, que mantiveram o hobby vivo e fizeram o jogo cruzar gerações, não são mais necessários! Agora os verdadeiros jogadores são aqueles que dobram seus joelhos para a ideologia do “amor”, pois esses seres vazios gastarão todos seu dinheiro em micro-transações para “montar” seus “avatares” pessoais super poderosos com o objetivo de preencher um pouco o vazio de suas almas, HAHAHAHAHAHAHA

    Até mesmo jogadores da velha guarda, como o Professor Dungeon Master, já está usando “espécies” no lugar de “raças”. Isso prova que a novilíngua que meus cultistas produziram está começando a surtir efeitos, HAHAHAHAHAHAHA

    (Agora a Wizards vai começar a monetizar o D&D até o talo. O objetivo deles não é mais “vender” livros e miniaturas, mas sim “alugar” esses produtos. A empresa vai sugar sem dó esses “usuários” novos, que só terão as contas pra dizer que são “jogadores”, mas que vão usar essa “mesa digital” oficial como um chat pra falarem de quão lacrador e combado os seus “avatares” são. Não nos esquecemos também que irão “revisar” os livros antigos e meter uma censura absurda. Só se lembrar o que aconteceu com meu cunhado numa mesa de pokémon, e olha que povinho da Wizards é pior que o pessoal do Roll20.

    O D&D agora virou uma caricatura do que ele era, tudo graças a Wizards massacrar sua base de consumidores antigos em troca de um público que é mais facilmente manipulável. Um exemplo perfeito de jogo arruinado foi o “Legend of the Five Rings”, que a FFG fez tudo que a Wizards fez, mudou todo o cenário pra agradar a lacração e ofendeu a base de fãs, e agora o negócio virou só um cenário genérico para D&D 5e. Imagina, o L5R teve quatro edições de RPG, mais o Cardgame, de sucesso em mais de década. E tudo afundou porque os caras não escutaram a base e quiseram atrair um público mais “moderno” e descobriram que essa galera que reclama não consome. O pior é que essas pragas querem infectar o Warhammer até dizer chega, exigindo que agora tenha Space Marines mulheres, que o Chaos não seja tão maligno, que os Aeldari troquem de sexo a vontade, que os Tau sejam comunistas bonzinhos e que os Orks sejam “humanizados” (sabem quem quer esse último). O pior é que os malucos que defendem essa besteira dizem que “vai atrair” um público novo, o que não vai acontecer, e sim vai afastar os jogadores verdadeiros e afundar o barco igual ao que aconteceu com L5R.

    Eu andei percebendo que ultimamente o Dungeoncraft tá usando as palavras “politicamente corretas” de D&D e tá dando muito destaque para empresas lacradoras. Ele ainda é bom e vale a penar ver os vídeos dele, mas estou começando a ficar com uma pulga atrás da orelha com ele.

    O “bug” voltou, eu tentei repostar meu comentário umas 5 vezes lá no blog de Elgalor, mas percebi uma coisa, eu consegui repostar o comentário lá na hora que mudei algumas palavras e dividi o comentário em dois.)

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    1. Pérfidos são os caminhos que seus Bruxos da Costa trilham, Gronark. E grande será também a queda de todos os seus cultistas!

      (Sim, a estratégia deles é extremamente agressiva e predatória em termos de mercado. Eles querem maximizar a receita das vendas concentrando tudo no modelo online sem intermediários, e ao mesmo tempo, reforçar isso com o "aluguel" de serviços cosméticos e "benefícios"; ao mesmo tempo em que tentam ser uma Blizard com seu Diablo IV, querem ser também uma Netflix com o sistema de assinatura. Mas não percebem que até mesmo jogos como Baldur's Gate 3, onde possuem participação nos lucros, irão quebrar essa estratégia de vendas nas duas frentes.

      O que talvez seja mais grave é o fato de estarem apostando em um público alienado e instável para sustentar tudo isso. Eles irão colher o mesmo que a Green Ronin recebeu com Legendo of the Five Rings. Irão destruir um bom jogo na tentativa de cair nas graças de um novo público, perderão seus verdadeiros jogadores e o novo público alvo continuará não jogando, apenas reclamando. Noto que estão mesmo tentando fazer isso com o universo de Warhammer, e espero que ao menos ali a GW tenha a sabedoria de barrar isso. Mas D&D, ao meu ver, está totalmente perdido. O sensato a fazer é pegar a edição que mais se adequa ao gosto do grupo de jogo, jogá-la fazendo as devidas customizações e esquecer que a Wizards e atualizações de D&D existem.

      Sobre DungeonCraft, notei algumas coisas também, mas apesar de falar com "cuidado", ele ainda apoia empresas independentes que trabalham com D&D, e nos vídeos que assisti, criticou abertamente a WotC e Paizo. Mas vejamos como isso será conduzido nos próximos meses, e quando One D&D sair.

      Sobre o problema nos comentários, comecemos novamente a mesma novela... Desta vez ao menos, farei bacjups constantes nos dois blogs).

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