Quem começou a jogar D&D nos últimos cinco anos
provavelmente associa o mesmo a um jogo sem desafio real, com moral dúbia,
personagens rasos e onde ninguém precisa lidar com as consequências de suas
ações. Quem começou a jogar nos últimos dois anos encontrou um cenário ainda
pior, onde o jogo foi reduzido a um sofrível ambiente virtual onde jogadores criam avatares de si próprios para viver em um mundo paralelo
movido a desejos e subversão.
No entanto, aqueles que começaram a jogar décadas atrás, ou
os mais jovens que buscaram conhecer as raízes do jogo, compreendem que D&D
é um jogo de cooperação e superação de desafios. É um jogo que colocar heróis
(heróis verdadeiros, não uma equipe circense fracassada como Vox Machina) em
situações de grandes riscos e grandes recompensas, onde, não raro, é preciso se
sacrificar por um bem maior, ou para garantir a proteção daquilo que se ama. E
é com satisfação que vejo que muitos veteranos procuram, cada um da melhor
maneira que pode, manter essa tradição viva.
Neste sentido, compartilho convosco um trabalho muito
interessante sobre as lendas e histórias do Vale do Vento Gélido, bem compilado
e narrado por um bardo conhecido como “Historiador Drow”. Aos interessados em
conhecer um pouco mais, ou mesmo relembrar, esta que é uma das regiões mais
clássicas de um dos mais clássicos cenários de D&D, convido-os a entrar
nessa jornada, certo de que não se arrependerão.

O Vale do Vento Gélido foi “modernizado” na nova campanha “Rime of the Frostmaiden”, pois agora o clima não é mais tão perigoso e os orgulhosos bárbaros da Tribo do Alce agora foram “diversificados e com valores culturais bem atuais”. Até mesmo a líder da tribo é uma mulher empoderada e “diversa” ao estilo do Jarl Haakon de Vikings: Valhalla. Nem mesmo esse clássico foi deixado de lado pelos meus Bruxos da Costa, HAHAHAHAHAHA
ResponderExcluirOs heróis criados por Salvatore também foram “modernizados”, Caolho. Wulfgar agora é um bárbaro inconsequente e emocionalmente instável que é uma caricatura do que as mulheres de hoje acham eu é um machista. Regis foi transformado em um ser guloso que só pensa em si mesmo e que de tempos em tempos se lembra que precisa ajudar algum companheiro. Já o anão Bruenor se tornou um bonachão indeciso que não tem ideia própria e precisa sempre ser orientado por Catti-Brie. E o que falar de nossa amada Catti-Brie, agora ela evoluiu se tornando mais raivosa, empoderada e teimosa como nunca. Uma verdadeira representação da feminilidade idealizada. Além disso temos Drizzt, o guerreiro, ranger, mago, ladrão, monge e cavaleiro jedi. Que agora será substituído por sua filha Briennelle Zaharina, que irá se juntar ao seleto grupo de “Lacradrieis” imbatíveis. Tudo isso em feito em nome da modernidade, pois segundo os meus Bruxos da Costa... “Tudo que veio antes de 2014 é errado, ofensivo e precisa ser apagado da história”. O amor venceu, HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
(Eu tenho um carinho enorme pelo Vale do Vento Gélido justamente pela ideia de “fronteira selvagem” que era apresentada nos livros e jogos antigos. Mas que virou um horror sobrenatural na 5e. A campanha “Rime of the Frostmaiden” não é “ruim” e tem ideias muito boas, mas perdeu muito do perigo dos ermos e o quão brutal é a própria terra.
Quanto a destruição dos personagens do Salvatore, ele próprio começou a destruir eles quando colocou o foco no Drizzt sendo um protagonista imbatível e o resto sendo meros npcs que orbitam o drow. Mas pra mim o pior erro foi terem quebrado o Wulfgar pra tornar a Catti-Brie no par romântico do Drizzt. Teria sido mais interessante ele ter se casado com aquela garota elfa que ele poupou na juventude e ter se tornado um mentor pros filhos dos amigos dele. O Salvatore até poderia ter deixado o drow cego e em depressão, mas voltando até o bosque onde ele conheceu o Montolio pra treinar para ficar com os reflexos afiados para não depender da visão como o do velho Ranger. Mas agora é a filha dele que vai roubar os holofotes e há temos uma ideia do que ela vai ser.)
Não te enganes, tolo, apesar de todo o esforço de teus "cultistas do amor", os heróis do Vale do Vento Gélido ainda resistem. Sim, boa parte da ambientação foi profanada (perdão, vocês preferem o termo "modernizada"), mas a essência dos personagens ainda persistem; para o bem e para o mal, devo admitir. Todas as descrições que destes aqui se referem a suplementos mais recentes e principalmente, aquele jogo sofrível e fracassado chamado Dark Alliance. Nos livros as coisas não estão (tão) ruins.
Excluir(Eu li alguns dos últimos livros de Salvatore, e confesso que foi um sacrifício muito grande, a ponto de que não consegui finalizar a leitura. Wulfgar e Catbrie estão exatamente como você descreveu. Regis praticamente não aparece e Bruenor, o que foi menos vandalizado, consegue ainda impor respeito, mas ele nada mais é do que uma sombra do personagem que poderia ter sido. Tudo giera em torno de Drizzt e sua perfeição absoluta. Chegamos a um ponto em que ele superou sem esforço seu pai, o Mestre de Armas Zaknafein (que em AD&D, era um guerreiro de 24o nível) e conseguiu um empate/vitória contra Mestre Kane, seu mestre monge que é praticamente um semideus. Sim, Drizzt é agora um monge nível 20, além de tudo o que já acumulou em termos de classes. Resumindo, é insuportável.
Eu concordo plenamente com você em relação ao Vale do Vento Gélido. Também é um lugar especial para mim pelo clima de fronteira selvagem que passa. Nos primeiros dois livros de Drizzt, vemos o quão perfeito o local é para aventuras. Sobre a obra de Salvatore, concordo com cada palavra sua. Ele destruiu o personagem e todo o seu entorno porque "se encantou" com Drizzt. Wulgar o incomodava, e por isso, entou acabar com o personagem o matando. Os editores não permitiram, e por birra, ele denegriu o personagem de todas as formas imagináveis. O Rei Bruenor também ofuscava Drizzt, e por isso, Salvatore tratou de reduzí-lo também. Também preferiria que Drizzt tivesse se casado com aquela jovem elfa quando ela crescesse, teria sido muito bonito. A filha dele com Catti-Brie já dá sinais de ser mais uma "Mary Sue empoderada", e a própria Wizards confimou ano retrasado que daqui em diante as hstórias do Vale do Vento Gélido seriam focadas nela, e não em Driztt (que praticamente ascendeu como um semideus Drow no último livro). Enfim, um legado que tinha tudo para ser brilhante, completamente destruído.
Um último ponto, muitos anos atrás, quando li o livro em que Montolio apareceu, fiquei aborrecido ao ver que ele havia encontrado seu fim, mesmo que de forma digna. Para mim, ele foi o melhor personagem que Salvatore criou, e a forma como ele trienou Drizzt e inclusive o derrotou em treino foi muito interessante, porque mostrou o quanto o Drow ainda poderia crescer. Hoje, penso que foi bom Montolio ter aquele fim, porque Salvatore invariavelmente ficaria enciumado com o personagem que facilmente ofuscaria Drizzt, e iríamos ter mais um Wulfgar desmoralizado).